A modernidade na prova zootécnica

Por Ivaris Júnior

Publicado na edição de dezembro de 2020 da revistanelore

Falar que mais uma prova de ganho de peso foi encerrada em novembro, entre tantas, não é tudo sem esclarecer sua importância histórica na seleção genética do bovino de corte no Brasil, principalmente entre as raças zebuínas, notadamente na Nelore. Durante muito tempo elas destacaram o desempenho de indivíduos na balança, entre pares no perfil morfológico e grupo contemporâneo. Mas com o ganho de mérito de inúmeras outras características além do peso, elas perderam seu brilho.

Porém, nos últimos anos, vê-se que essas provas retomam uma posição de destaque, graças à incorporação de uma série de ferramentas do melhoramento animal moderno. E este é o caso da 6ª Prova de Desempenho – Programa IDC 2020, realizada pela Associação dos Criadores do Sul do Mato Grosso (CriaSul), entidade presidida por Guilherme A. Leal Basagliaque se define como um “braço” da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat): projetos independentes, mas afinados.

Ela é resultado do esforço de pecuaristas com interesses e dificuldades em comum que se uniram para prosperar. Enquanto bovinocultura seletiva, queriam identificar indivíduos que incrementassem seus rebanhos e de parceiros, alguns vizinhos de cerca. Comparadas as planilhas da primeira com a da última prova, o salto justifica todo o empenho. Os protagonistas fizeram touros de centrais de inseminação artificial e já centenas de reprodutores para cobertura a campo, tendo como resultado final bezerros mais produtivos e lucrativos no gancho da indústria.

Essa prova da CriaSul não pode ser vista como as tradicionais PGPs (Provas de Ganho de Peso), em função da qualidade dos seus avais científicos e dos técnicos envolvidos, sejam credenciados pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) ou mestres, doutores e alunos supervisionados da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), cidade sede. Além do suporte de credibilidade, os animais mensurados são extraídos da cabeceira dos melhores plantéis associados, alguns de renome nacional e até integrantes da Confraria da Carcaça Nelore, um movimento nacional pela qualidade da carne da raça, que ganha diariamente novos adeptos.

A retomada das antigas PGPs

Há décadas, elas colocaram em prova beleza e desempenho zootécnico, em todo o mundo. No Brasil tiveram grande valor, enquanto as Diferenças Esperadas de Progênie (DEPs), genômica, eficiência alimentar e avaliação de carcaça por ultrassonografia, não chegavam para uso em massa. Mas no dinamismo do pecuarista brasileiro, as novas ferramentas acabaram incorporadas e o grande atrativo de revelar de imediato os melhores indivíduos se manteve.

E para não deixar os melhores animais, cada vez com desempenho mais próximo, surgiram os índices de mensuração de qualidade, uma espécie de equação que considera uma série de características. Na verdade, um número que tenta traduzir o potencial das crias dos reprodutores, com pesos pontualmente pré-definidos, segundo mercado e interesses outros, mas que demonstram o potencial de produção.

CriaSul e a “menina de seus olhos”

A prova levada pela entidade é bastante democrática. As características de avaliação são flexíveis e traduzem o índice IDC, além do fechado pela ABCZ. É aberta também a animais não POs, como os de CEIP, por exemplo, e até outras raças. Já avaliou Senepol e Sindi. A participação em número de animais por pecuarista é livre e a entidade cobra apenas uma taxa para manutenção da dieta.

A prova da CriaSul, atualmente em sexta edição, mensura ganho de peso diário (GPMD), Epmuras completo [estrutura corporal (E), precocidade (P), musculosidade (M), umbigo (U), características raciais (R), aprumos (A), características sexuais (S)], além de perímetro escrotal (PE), área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS) e marmoreio (MAR), que é a presença de gordura entremeada entre as fibras da carne, representando maciez e suculência.

As três últimas características são ponderadas por equipamento ultrassonográfico. A acurácia de tais características já justifica o esforço de organizadores e participantes da prova. E esse gás não acaba, para a próximas temporadas, devem ser incluídas avaliações genômicas. Paralelamente, a Criasul e a UFR buscam parcerias para adquirirem o equipamento necessário também para avaliar o Consumo Alimentar Residual (CAR), tópico cada mais relevante na seleção bovina.

Credibilidade e chancelas

Para que a Criasul contasse com um apelo ainda maior, do ponto de vista técnico, o regulamento da prova se aproximou muito ao definido pela ABCZ. A prova se dá em confinamento com tratamento alimentar único. Em função de diferenças de um criatório para outro, como

período de desmame, suplementação, e qualidade e volume na oferta de volumoso, uma fase de adaptação (primeiros 56 dias – 8 semanas exatas – em piquetes únicos) é necessária para zerar os animais e colocá-los em pé de igualdade.

O tempo de prova efetivo é mesmo de 112 dias. Atualmente ela conta com a avaliação das informações pela ABCZ e, paralelamente, da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), parceira desde a primeira edição. Os índices finalizados são diferentes, porque a composição do aferido pela ABCZ é menos flexível, comparativamente ao IDC. Os resultados são muito semelhantes, “sem grandes discrepâncias”, afirma Márcio Buosi, vice-presidente da Criasul e pecuarista do Nelore Raçador, juntamente com Antônio Quirino.

Porém, hoje é consenso que um animal para ser de exceção não adianta só ser apenasbom ganhador de peso. Ele tem de ter boa conformação (avaliação visual pelo Epmuras completo), apresentar funcionalidade e boa carcaça, entre outros parâmetros possíveis. A prova foi evoluindo e incorporando características mais prementes para a pecuária competitiva, aproximando mais o IDC final das respostas que se espera. A prova teve data de 2 de junho para entrada na adaptação, 28 de julho para início e 17 de novembro, término.

Em si, a 6ª Prova de Desempenho da CriaSul

Foram doze criadores do Mato Grosso que reuniram 50 animais (número cravado), com desempenhos superando as melhores expectativas. “Animais considerados inferiores nessa prova são dignos de trabalhar em grande parte das fazendas do Brasil”, reforça Buosi.

Participaram da prova Áureo C. Costa Júnior, Bernardo Rietjens, Edilson José Buosi, Fábio Spada, Guilherme A. Leal Basaglia, Marco Túlio Duarte Soares Nelore Celeiro, Renato Giglio, Shiro Nishimura, Uilsimar Dagnoni Gasparelli, Nelore Raçador e Victor Solani.

A dieta do regime de confinamento foi concebida para um ganho de peso diário de no máximo 1,2 mil gramas, de modo a conferir bom desempenho animal sem riscos de incorrer em superalimentação, o que influenciaria negativamente na avaliação de outras características, mascarando a genética apresentada individualmente. A trato oferecido foi à base de silagem de milho com um pouco de concentrado, balanceado para esta expectativa de GPMD.

Márcio destaca este ponto da nutrição, porque a prova, em anos anteriores, registrou oscilação na média desse ganho entre 870g e 1,04 mil. “A variação é decorrente das condições do ano da prova, tais como clima, qualidade dos ingredientes da dieta e da mão de obra envolvida, além da habilidade dos próprios animais”, explica. Resta saber que essas provas já colocaram quatro animais em renomadas centrais de inseminação artificial eoutros, ainda, como destaques no Programa Nacional de Avaliação de Touros(PNAT), da ABCZ.

Resultados das apurações

Ao final da prova, pela apuração da ABCZ, 802 FIV da Marajoara, garrote setembro de 2019 filho de REM F22 FIV, foi o campeão, com GMD de 1,295kg, Elite 32 pontos, Excelente. Na segunda posição ficou 301 FIV da GLIO, nascido em agosto de 2019, filho de 2445 da Grendene, com GMD de 1,134kg, também Elite 32 pontos, Excelente. O terceiro colocado foi Abrigo da VP, outro nascido em agosto de 2019, filho de REM Armador, com GMD de 1,179kg, também Elite 32 pontos, Excelente.

Pela prova em paralelo, com o mesmo elenco de animais e apurada pela UFR, o campeão foi 301 FIV da GLIO (2º lugar na prova levada pela ABCZ), com Índice de Desempenho Criasul (IDC) 119,01. Na segunda posição ficou Abrigo da VP (3º lugar na ABCZ), com IDC de 118,24. O terceiro colocado foi 802 FIV da Marajoara (1º na ABCZ), com IDC de 116,30. Vale ainda informar que o GMD médio de todos os bovinos participantes ficou em 928g, enquanto que Ganho de Peso Final médio de 104kg, CE de 27cm, e o peso calculado para 450 dias, de 452kg cada; além de avaliação de tipo “Muito Boa”, sem animais “Regula” ou “Inferior”. Informações mais completas podem ser obtidas na própria Associação.

Avaliação técnica e científica

Os dois mestres da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR), os professores doutores Rodrigo Junqueira Pereira e Mário Luiz Santana Júnior, divulgaram nota oficial conjunta sobre esta prova da CriaSul. Diz:

“A prova de desempenho do projeto IDC CriaSul tem sido tão relevante que já temos animais que saíram daqui e se destacaram em outras avaliações nacionais, animais em coleta de sêmen em centrais de inseminação e animais filhos de touros que foram destaque nas edições anteriores da prova e que estão se destacando nas edições mais recentes. Em conjunto, esses resultados mostram que estamos no caminho certo.

A prova é um teste de desempenho para bovinos de corte que objetiva a identificação de indivíduos geneticamente superiores para características de interesse econômico relacionadas, principalmente, ao potencial de crescimento e qualidade da carcaça. Neste tipo de prova zootécnica, animais provenientes de diferentes fazendas são reunidos em um só local e submetidos a um mesmo manejo nutricional, sanitário, etc.

Dessa forma, as diferenças de desempenho entre os indivíduos são consequência principalmente das diferenças genéticas entre eles e então busca-se identificar aqueles de genética superior para as diversas características de importância econômica na pecuária de corte.

O Estado de Mato Grosso ocupa a primeira posição no País em quantidade de carne bovina produzida. Assim, ações que contribuam para o melhoramento genético de bovinos são estratégicas para a pecuária de corte mato-grossense e brasileira, já que contribuirão para que esta cresça em competitividade e se torne ambientalmente mais eficiente”, concluem.

André Luís Lourenço Borges, gerente Regional da ABCZ no Mato Grosso, também fez ponderações sobre os resultados e a importância da prova no contexto da região. Trata-se de um profissional que acompanha a CriaSul desde seu primeiro projeto: um leilão que se mantém até hoje, mas que inicialmente comercializava animais somente com uma avaliação morfológica (julgamento de pista), feita por um jurado competente.

Borges destaca de outras características levantadas na prova, aquelas referentes à qualidade de carcaça. “Todos se mostraram superiores, no que diz respeito à área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EGS) e marmoreio (MAR). O nível foi altíssimo, considerando que dos garrotes, 80% foram “Elite” ou “Superior”. Meu entusiasmo é explicado por ver o afinco desses criadores e a qualidade dos animais que disponibilizam à produção de carne nacional”, conclui.

Confira a reportagem na edição de dezembro da revistanelore AQUI.

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